24 setembro 2009

Arquivo Morto


Ah! Aquela sensação novamente de missão cumprida! Mais uma alma para meu recanto virtual. Agora tinha de fazer seu túmulo, ou melhor, seu mausoléu, porque Christine era especial. A pela branca e macia, os cabelos negros e lisos, a boca vermelha... seduzi-la foi um jogo maravilhoso, daqueles que se joga a madrugada toda sem dormir.

Abri o site, criei seu arquivo. Tudo o que pude saber da vida dela estava lá. Vinte e três anos, um metro e setenta de altura; profissão: prostituta, a mais bela e envolvente de todas elas. Coloquei-a no centro de meu cemitério, a principal de minha coleção.

O corpo fora encontrado pelo jovem delegado Moura, na tarde do dia seguinte. O lugar era mesmo óbvio, eu queria que ele fosse o primeiro a conhecer a mais bela de minhas almas. Ele a chamou de "a décima terceira de Allan", porque era minha 13ª mulher e porque esse é o nome que eu assinava nelas.

Pobre delegado! Por mais que juntasse todas as provas que encontrava nos corpos, ele sempre se esquecia de ir até a minha residência virtual, era lá que estavam as verdadeiras pistas. Entretanto, eu tratei de deixar um bilhete desta vez. Pedi que Christine anotasse o site, caso quisesse visitá-lo um dia (ainda me lembro de seu sorriso quando terminou de repetir todo o endereço). Deixei esta anotação no pulso esquerdo dela, seria sua única pista relevante no corpo da vítima, e a primeira do caso.

A noite, um novo e-mail, o delegado entrou em contato comigo. Fazia mil perguntas e uma afirmação "eu encontrei você". Quem diria, não é mesmo? Até que enfim... Adicionei o e-mail do delegado ao meu programa de mensagens instantâneas. Conversamos com mais calma, pude conhecê-lo sem as máscaras dessa mídia ridícula que deturpa as pessoas.

A verdade é que eu já estava cansado de minhas aventuras e aquelas almas pesavam em mim, sobretudo Christine, que morreu tão docemente junto ao meu corpo, sussurrando apenas "obrigado..." quando a faca entrou em seu coração. Sentia vontade de me juntar a ela, era meu primeiro amor aos 33 anos e 13º homicídio.

Fui dando uma a uma as pistas ao delegado Moura à medida que fui lhe envolvendo em minha história. Um dia pedi-lhe que cuidasse de meu jardim, tinha certeza que o havia preparado bem, para que eu enfim pudesse me juntar a Christine e cuidar das outras. O delegado aceitou. Estava então tudo pronto: o e-mail, a senha, a arma. Passei-lhe o domínio de meu mundo e despedi-me com minha última bala...

Acordei com luzes, dores e esparadrapos, a próxima parada seria o manicômio para assassinos na ilha de Noronha; se eu fosse para uma prisão comum, poderia me matar. Fui condenado à prisão perpétua entre paredes brancas e acolchoadas; o que me consola é saber que o fim esta próximo, pois tenho hoje 53 anos e até ontem, quando o delegado esteve aqui, meu jardim ainda estava intacto, tal como o deixei a 20 anos atrás.

3 comentários:

noodles disse...

caralho moema, ta psicopata eim? vamo fazer um filme?

Marcos Choze disse...

Fascinante, eu sou viciado nesse tipo de literatura, filme, seriados, etc ...
Pena que ele foi pego e levado ao manicômio, pessoas assim não deveriam ser presas ou levadas a tal lugar e sim estudadas pois imagino que o prazer em matar alguém exista mesmo, afinal vivemos buscando poder sobre as pessoas e a sociedade e matar alguém é ter poder sobre ela de certa forma. Deus nos deu a vida e sobre teoria somente ele poderia tirá-la, mais a necessidade de alguns homens em ser ao menos a unha do dedão do pé de Deus faz com que eles matem.. muitas vezes até não fisicamente mas matam ao negar por exemplo que tomemos nossas próprias decisões ...

Anônimo disse...

Moema,belo e impressionante conto!! Crime, amor, suspense e drama hummm kkkk Qdo publicar o livro, quero o ser a primeira a ganhar autografado,viu??? =)bjs Aline

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