Ah! Aquela sensação novamente de missão cumprida! Mais uma alma para meu recanto virtual. Agora tinha de fazer seu túmulo, ou melhor, seu mausoléu, porque Christine era especial. A pela branca e macia, os cabelos negros e lisos, a boca vermelha... seduzi-la foi um jogo maravilhoso, daqueles que se joga a madrugada toda sem dormir.
Abri o site, criei seu arquivo. Tudo o que pude saber da vida dela estava lá. Vinte e três anos, um metro e setenta de altura; profissão: prostituta, a mais bela e envolvente de todas elas. Coloquei-a no centro de meu cemitério, a principal de minha coleção.
O corpo fora encontrado pelo jovem delegado Moura, na tarde do dia seguinte. O lugar era mesmo óbvio, eu queria que ele fosse o primeiro a conhecer a mais bela de minhas almas. Ele a chamou de "a décima terceira de Allan", porque era minha 13ª mulher e porque esse é o nome que eu assinava nelas.
Pobre delegado! Por mais que juntasse todas as provas que encontrava nos corpos, ele sempre se esquecia de ir até a minha residência virtual, era lá que estavam as verdadeiras pistas. Entretanto, eu tratei de deixar um bilhete desta vez. Pedi que Christine anotasse o site, caso quisesse visitá-lo um dia (ainda me lembro de seu sorriso quando terminou de repetir todo o endereço). Deixei esta anotação no pulso esquerdo dela, seria sua única pista relevante no corpo da vítima, e a primeira do caso.
A noite, um novo e-mail, o delegado entrou em contato comigo. Fazia mil perguntas e uma afirmação "eu encontrei você". Quem diria, não é mesmo? Até que enfim... Adicionei o e-mail do delegado ao meu programa de mensagens instantâneas. Conversamos com mais calma, pude conhecê-lo sem as máscaras dessa mídia ridícula que deturpa as pessoas.
A verdade é que eu já estava cansado de minhas aventuras e aquelas almas pesavam em mim, sobretudo Christine, que morreu tão docemente junto ao meu corpo, sussurrando apenas "obrigado..." quando a faca entrou em seu coração. Sentia vontade de me juntar a ela, era meu primeiro amor aos 33 anos e 13º homicídio.
Fui dando uma a uma as pistas ao delegado Moura à medida que fui lhe envolvendo em minha história. Um dia pedi-lhe que cuidasse de meu jardim, tinha certeza que o havia preparado bem, para que eu enfim pudesse me juntar a Christine e cuidar das outras. O delegado aceitou. Estava então tudo pronto: o e-mail, a senha, a arma. Passei-lhe o domínio de meu mundo e despedi-me com minha última bala...
Acordei com luzes, dores e esparadrapos, a próxima parada seria o manicômio para assassinos na ilha de Noronha; se eu fosse para uma prisão comum, poderia me matar. Fui condenado à prisão perpétua entre paredes brancas e acolchoadas; o que me consola é saber que o fim esta próximo, pois tenho hoje 53 anos e até ontem, quando o delegado esteve aqui, meu jardim ainda estava intacto, tal como o deixei a 20 anos atrás.