04 agosto 2010
Pensamentos soltos em linhas rígidas
Olhei pra trás e vi tudo desmoronando. O mundo estava caindo, o passado virava pó... tudo o que eu acreditava: todas as minhas virtudes, todas as minhas leis... tudo caía e virava pó. E o pó vinha atrás de mim, como uma tempestade de areia no deserto do Saara. Só me restava correr.
Corri, corri, corri... até que avistei algumas ruínas. Sem nem pensar entrei em uma velha casa de pedra, toda rachada e esperei a tempestade passar. Vi minhas virtudes em pó rirem de mim e minhas leis jogavam areia nos meus olhos, o que me fazia chorar.
Chorei, muito, até que a tempestade passou e o sol abriu. Não gosto muito de sol, nunca gostei... acho que era porque quando eu ia na fazenda minha mãe não me deixava andar à cavalo no sol, ou talvez porque eu ficasse vermelha quando exposta ao sol - ainda fico. De qualquer forma, o sol é melhor que a poeira... a poeira de mim mesma.
Comecei a olhar em volta; a velha casa parecia que ia cair e mesmo assim, era firme. Saí, olhei outras casas como aquela, vi também uma torre, um poço ao centro; lembrei então que eu precisava beber água ou ia morrer. Olhei o poço, nada. Nada de nada era o que era aquilo ali.
Sentei numa pedra qualquer, ou no chão mesmo, não sei... só sei que tentei pensar e não consegui, eu olhava pros lados e não tinha nada. "Nada de nada" pensei de novo, só essa frase me vinha na cabeça. Levantei, sacodi a areia e comecei a andar. Sem rumo, sem pensar no que estava fazendo... só andar.
Andei, até que as ruínas foram ficando pequenas no horizonte, até que sumiram por completo. Parei, contemplei a vista. "O sol vai me deixar vermelha como um pimentão", pensei, e ao pensar nisso pensei em mamãe, que estaria brava se estivesse me vendo, porque eu não tinha passado filtro solar... Sorri com esse pensamento e dei mais uns passos pensando em minha mãe.
Minha mãe era mãe mesmo. "Mãezona" e eu... eu era a "filhota" porque sou filha única e por isso sempre dei trabalho. "Minha mãe me ama", pensei, e ao pensar nisso pisei em algo que fez "creck". Peguei, olhei, era um óculos, o óculos da minha mãe... ainda bem não quebrou.
Coloquei os óculos e continei andando... comecei a olhar o formato das dunas, afinal não havia mais nada pra fazer mesmo, e vi uma que parecia um peixe. Peixes... meu pai adorava pescar e sempre me levava com ele quando podia. "Nunca mais pesquei", pensei... e quando pensei nisso, apareceu um rio, assim mesmo, puft, do nada, de repente um rio.
Entrei no rio. Água friiia, correnteza forte, não dava pra nadar pro nada. Então fui andando na margem... pelo menos eu tinha água agora. E como era boa a água do rio! Tinha gosto de infância, de infância bem vivida.
Lembrei da minha infância e senti fome. Porque lembrei de minhas avós, que sempre me davam algo delicioso pra comer. E fechei os olhos imaginando suspiros e rosquinhas frescos e eles tinham cheiro de goiabada caseira. Quando abri os olhos vi uma cidade, com prédios grandes e cinzas, com carros e até alguns poucos helicópteros.
"Que estranho... uma cidade aqui, no meio do nada e na beira do rio", pensei, mas quando eu acabei de pensar nisso, o cheiro sumiu, a água sumiu, os óculos evaporaram-se.
Acordei, acordei atrasada e cansada. Com sede da água da infância, com fome dos doces, com os olhos ardendo e com calor. Fechei os olhos e tentei lembrar de minhas leis, de minhas virtudes... Graças a Deus encontrei algumas na escuridão daquela manhã de sol.
Sorri, aquela ainda era eu... Mas por quanto tempo? Temi por minhas leis, não queria que virassem pó. "O sonho foi um aviso, mas... que aviso?", pensei, e quando terminei de pensar vi um livro, aberto no meio. Não dava pra ver o começo só se via que estava em branco do meio pra frente. Peguei uma caneta e escrevi. O que eu escrevi? Não sei, não parei pra ler ainda... por enquanto só estou escrevendo.
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